terça-feira, 27 de abril de 2010

O Superorgânico

Antropólogo teuto-americano, A. L. Kroeber, 1876-1960.


A ideia de "o superorgânico" é associado a Alfred Kroeber, um antropólogo americano que escreveu na primeira metade do século XX. O superorgânico é outro modo de descrever - e compreender - a cultura ou o sistema socio-cultural.

Se começarmos com o inorgânico, é o universo físico, todos os átomos dos elementos sem vida. Podemos chamar isto o mais baixo nível de complexidade. O segundo nível de complexidade é composto das coisas vivas. Todas as coisas vivas, plantas e animais, são compostos de elementos inorgânicos, principalmente de hidrogénio, oxigénio e carbono, mais alguns elementos raros.

Aqui usamos uma frase interessante, "O todo é maior que a soma das partes." O conjunto de elementos inorgânicos que designamos de, por exemplo, uma árvore, ou um cão, está viva. Se analisar todas essas partes, por si mesmas, ou mesmo como um conjunto, não estão vivas. O posicionamento torna-as vivas. Se separar o cão ou a árvore nos seus elementos separados, eles morrem.

Sabendo a dinâmica de como os átomos de carbono funcionam, ou que combinar hidrogénio e oxigénio pode resultar na combustão rápida ou mesmo numa explosão, não explica como a árvore funciona, com as suas folhas a converter a luz solar em energia e a transformar água e dióxido de carbono em oxigénio e carbono, canais para transferir a seiva das folhas para as raízes, e por aí fora.

gualmente, o cão, se visto como um sistema biológico, opera a nível mais elevado de complexidade que os elementos inorgânicos que o compõem.

Uma entidade viva, então, transcende as suas partes inorgânicas.

Observando a relação entre as coisas vivas e as suas componentes inorgânicas desta forma ajuda-nos a compreender a relação entre a cultura e as pessoas. A cultura e a sociedade compõem o terceiro nível.

Os seres humanos são animais, e dessa forma são sistemas orgânicos. Eles desenvolveram comunicações entre eles próprios a uma nível complexo, muito mais sofisticado do que outros animais. Esta complexidade associa os humanos em comunidades e sociedades. Estas associações são simbólicas, não genéticas como nos sistemas biológicos. O nível socio-económico, cultura ou sociedade, é deste modo transportado por humanos e transcende os humanos. Uma cultura tem uma "vida própria" que é simbólica em vez de genética. É deste modo uma coisa "viva".

Opera entre os seres humanos, então, a um nível mais elevado de complexidade que o orgânico. É superorgânico.

Existe, deste modo, um paralelismo nas relações entre o inorgânico e o orgânico, tal como entre o orgânico e superorgânico. O conceito desenvolvido pelo sociologo Emile Durkheim, um "facto social", expressa-se neste entendimento.

Os humanos têm pensamentos e comportamentos: esses são transportados pelos indivíduos. Eles comportam-se, no entanto, em consonância uns com os outros, como um sistema externo. Não pense num cão como um átomo de carbono ou uma molécula de hidrocarboneto e da mesma forma, não pense numa comunidade, numa instituição, numa sociedade como um ser humano.

Não antropomorfize a cultura. A cultura é uma ordem diferente - tão diferente do ser humano indivídual quanto o cão é de todos os átomos orgânicos que o compoem.

(Texto original por por Phil Bartle, traduzido por Inês Rato e modificado por Thaddeus Blanchette)

Determinismos, biológicos e outros.



O racismo clássico pode ser considerado como variante do determinismo biológico.


Determinismo é a doutrina que afirma serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas, causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio. Segue-se que o ser humano seria destituído de liberdade de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte.

Determinismo biológico, portanto, é a crença que a biologia determina o comportamento humano, negligenciando os outros fatores como o social, o cultural, o ambiental e o político.

No racismo clássico, a raça é entendida como um pacote unificado de genes e esses regulam o comportamento humano, criando uma situação onde, por exemplo o negro supostamente tem talento natural para dança e o japonês por engenharia e assim adiante.

Existem outros tipos de determinismo biológico, porém, como sexismo (a crença que o sexo biológico determina o comportamento) ou certas variantes de heteronormatividade (que estipulam o homossexual como um ser fisicamente distinto cujo comportamento é determinado por essa diferença).

É importante também saber que existem outros tipos de determinismo no mundo, como por exemplo o determinismo geográfico (que prega que o meio-ambiente determina absolutamente o comportamento humano) ou determinismo cultural (em que a cultura supostamente determina absolutamente o comportamento humano – erro de uma determinada corrente de antropologia).

Esses determinismos são falsos, pois todos tentam reduzir os comportamentos complexos a origens simples e limitadas. Também eliminam qualquer possibilidade de agência por parte dos seres humanos – ou seja, ignoram a nossa capacidade de refletir sobre nossas ações e decidir modificar nosso comportamento..

Embora somos seres superorgânicos, programados por nossa sociedades, também estamos sujeitos a determinados fatores biológicos. Se você adquire uma doença, por exemplo, seu corpo de fato vai sofrer modificações que hão de impactar sob seu comportamento. Também não há dúvida alguma de que existem corpos diferentes e que essas diferenças podem influenciar nossos comportamentos. A palavra chave aqui é “influenciar”, em vez de “determinar”.