terça-feira, 30 de novembro de 2010

Final do semestre



O trabalho final do curso

Leia os três artigos referentes às pesquisas qualitativas nas questões de saúde. Analisa-los na luz das teorias sobre a cultura apresentadas no curso. Utilize as leituras do curso, particularmente aquelas que tratam da construção socio-cultural do corpo, para responder às seguintes questões:


1) Nos três casos apresentados, como é que a cultura impacta nos corpos dos indivíduos estudados?

2) Como é que a cultura afeita o tratamento que essas pessoas recebem do sistema de saúde?

Ambas estes pontos devem ser abordados em todos os três artigos.

O trabalho deve ter entre 5 e 10 páginas (sem contar a bibliografia e a página de frente), fonte Times New Roman 12, espaço um e meia. Todas as normas universitárias referentes a plágio e e referências bibliográficas devem ser seguidas. Atribuições devem ser incluídas no texto cada vez que você cita as palavras de outro autor ou use as ideias de outro autor. Nota-se que você nunca pode fazer atribuições demais e o uso correto de atribuições é sua única defesa contra acusações de plágio. Como fazer uma atribuição? Simples: em parenteses, assim, logo após do material em questão (SOBRENOME DE AUTOR, data de publicação: página de onde retirou o material). Então, se você quer citar, por exemplo o Frederik Barth sobre a etnicidade, a atribuição correta seria (BARTH, 2000: pagina tal). Se a ideia do autor é geral, só cita seu nome e a data. Se você não tem a data de publicação da obra, isto pode ser facilmente encontrada na internet, buscando pelo título. Em última instância, você pode usar “s/d” (que indica “sem data”).

Para com a bibliografia, ela fica ao final de seu trabalho e deve incluir todos os autores e obras que você citou em suas respostas, listadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor. Cada entrada na lista deve ser assim:

SOBRENOME, Nome. Data de publicação. Título. Título da coletânea, se tiver. Cidade de publicação: editor.

Então no caso de Barth...

BARTH, Fredrik. 2000. “Os grupos étnicos e suas fronteiras”. Em O Guru, O Iniciador. Rio de Janeiro: Contra Capa.

Não esqueça de incluir seu nome numa página de rosto!

O trabalho deve ser entregue por via de internet em formato Windows Word, até as 17:00 horas no dia 21 de dezembro. Você não deve considerar seu trabalho entregue até receber uma resposta minha confirmando o recebimento, portanto, não espere até a última hora para entregar o trabalho!

Endereço para entregue: macunaima30@yahoo.com.br

Subsídios para o trabalho...
...podem ser encontrados nos textos do curso e também aqui no blog.

Sobre raça entre os seres humanos, aqui,

Sobre o conceito do superorgânico, aqui.

Sobre determinismos (biológicos e culturais), aqui.

Sobre o conceito de cultura, aqui.

Sobre a eugenia, aqui.

Sobre o Darwinismo Social, aqui.

Boa sorte! :D

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cancelamento da aula de 10.11

Gente,

Vamos ter que cancelar nossa aula dessa quarta (que é, afinal, uma boa notícia, pois dá tempo para todo mundo ler os livros indicados). Fui chamado a BH por uma reunião urgente de avaliação do plano nacional contra o tráfico de pessoas. Pedi para eles marcarm a minha volta na terça, mas só conseguiram marcar na quarta a tarde. :/ Alem disto, estou com um problema recorrente de saúde, então vou aproveitar o final do dia na quarta para ir a emergência e ver o que está acontecendo.

Estou fazendo muitas notas etnográficas e pretendo transformar isto em documento etnográfico e documento sinótico, para ilustrar os conceitos da aula. Vou mandar esses tão logo quanto puder para vocês criticaram.

Abraços,
Thaddeus

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

In Spite of You Tomorrow Must be Another Day

A rose in a Coke bottle in an ex-jail cell in memory of those who died
and were tortured during the Brazilian military dictatorship, 1964-1984.
The old headquarters of the political police in São Paulo, DOPS, is now a
museum dedicated to the preservation of the memory of the crimes
of authoritarian government.


This one is for my American friends and relatives who are bummed out by the far right's apparent win in this week's elections in the United States.

"Apesar de Você" is a samba that was written and originally interpretted by Brazilian singer/songwriter Chico Buarque de Hollanda in 1970, during the height of the Brazilian military dictatorship. The song was banned from airplay by then President General Médici for its rather explicit criticism of the Brazilian far right.


Chico Buarque #4, banned in Brazil in 1970

In March 1970, Chico returned to Brazil from exile in Italy, having heard from a friend that things "were getting better". They were not. In fact, the period from 1968 to roughly 1974 in Brazil is now known as the "years of lead", when the nascent revolutionary movements in the country were squashed through mass arrests and torture. Chico expressed his disgust with the situation by writing "Apesar de você" - In Spite of You - a full-throated critique of the military regime thinly veiled as quarrel between lovers. When he sent it in to the censors to be vetted, Chico never imagined it would get through - but it did and it sold 100,000 copies.

As soon as a word-of-mouth campaign had put the word out onto the streets about what the song's target really was, Chico was denounced and "Apesar" was banned from the airways. Government officials invaded the record factory and destroyed what copies remained of the song. The censor who approved it was canned and Chico was dragged into political police headquarters and asked at the point of a truncheon who the "you" in the song referred to.

"Oh, it refers to a very pushy and authoritarian woman," said Chico. But everyone in Brazil new that it referred to the generals.

Because of "Apesar", Chico - who many consider to be Brazil's finest living poet - was marked out by the censors as an irredeemable smart-ass and his later records and poems were gone over with a fine-toothed comb and scissors. In the future, Chico had to write and record under a pseudonym in order to get his material past the government.

At the same time Chico published "Apesar de Você", a 27 year old woman was rotting away in prison. A young socialist daughter of Bulgarian immigrants, Dilma Rousseff had joined the nascent revolutionary movement against the dictatorship and, together with her comrade Carlos Minc, had allegedly stolen a safety deposit box containing 2.5 million dollars belonging to the ex-governer of São Paulo, Ademar de Barros, reputably one of the most corrupt men in modern Brazilian history. Dilma was caught in an anti-guerrilla round-up in 1970 and was taken to the headquarters of Operation Bandeirante, the military government's political police facility. There she was tortured for 22 days. Her tormentors employed beatings, electric shocks and most likely sexual abuse.



Dilma Rousseff's mug shot in 1970, taken by the São Paulo political police
on occasion of her arrest and before she endured 22 days of torture.
 
In the very unlikely event that Dilma heard Chico's song while she was in jail, the future it proposed could have only seemed to be a very cruel dream, the kind of thing a drug-addled hippy would come up with, perhaps.
 
On Sunday, October 31st 2010, Dilma Rousseff was elected President of the Federal Republic of Brazil, on the Workers' Party ticket. She will be sworn in as our 36th president in early 2011, Brazil's first female president and, according to some, the most powerful woman in the world. Her old revolutionary comrade Carlos Minc, a leading light of the Brazilian Green Party, is currently our Minister of the Environment and likely to retain that position.
 

Dilma Rousseff, 36th President of Brasil.
 
So you see, there really is a future. In spite of them.
 
Chico Buarque de Holanda (1970)
 
Today, it's you who rule
What you say goes
No talking back
Today, my people talk in low voices
With lowered heads
See?
You who invented this state
All this darkness
You invented sin
And forgot to invent forgiveness.

In spite of you
Tomorrow must be another day
I ask myself where are you going to hide
From the enormous euphoria?
How are you going to stop
The rooster who insists on crowing?
New water springing up
And us loving without stopping?

When the time comes
You'll pay me back for all this suffering
I swear it
All this repressed love
These contained cries
This samba in the dark
You, who invented sadness
Have the courtesy to uninvent it
You're going to pay in double
For every tear I shed
In my pain

In spite of you
Tomorrow must be another day
I'm going to pay to see
The garden break out in flowers
Just like you didn't want
You're going to rue
Seeing the sun come up
Without asking your permission
And I'm going to die laughing
And this day is coming
Sooner than you think.

In spite of you
Tomorrow must be another day
You're going to have to see
The morning be born
And spit out poetry
How are you going to explain yourself
When the skies suddenly clear
With impunity?
How are you going to muffle
Us singing in chorus right in front of you?

In spite of you
Tomorrow must be another day
You're going to come to a bad end
Etc. and so on
Lalalalala...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Para os alunos de FCA218, Antropologia Cultural

Não teremos aula no dia 26 de outubro. Em compensação, vamos ter um engajamento mais profundo com dois textos: "A Falsa Medida do Homen" e "Genes, Povos e Línguas", que serão apresentados pela turma na primeira semana de novembro.

Enquanto isto, temos notas sobre o conceito do "Superorgânico", que podem ser encontradas aqui, e sobre a história do conceito de cultura, que podem ser encontradas aqui.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ementa e lista de leituras para o curso "Pesquisa qualitativa e prostituição"





Pesquisa Qualitativa, Estigma e Prostituição
Programação
29/09 Orientação
Discussão do texto “Sexo a um Real”.
Quantitativa vs. qualitativa: demonstração pragmática (Tadeu)
Dois exemplos do mau uso de dados quantitativos e qualitativos:       
                Prostituição internacional e o tráfico das mulheres.
Violência no Brasil e no Rio.
A má combinação: dados quantitativos bons com dados qualitativos ruins.
06/10     Filme: Kinsey
Tarefa de casa: identificar os elementos qualitativos e quantitativos na pesquisa dos Kinseys. Discussão do filme
Identificação dos elementos quantitativos e qualitativos na pesquisa de Kinsey
DaMatta, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1982. 1ª Parte (17-58)
13/10     Ciência objetiva vs. ciência interpretativa
Durkheim e Weber
Tipos ideais
A imaginação sociológica.
Construindo dados: o papel ativo do pesquisador
Decisões do pesquisador e como pesam na pesquisa.
Bases empíricas e experiências particulares.
A má leitura dos dados por outras pessoas.
A ética científica
A responsabilidade do cientista a escolher bem e deixar suas escolhas transparentes.
A combinação adequada de dados quantitativos e qualitativos.
Giddens, Anthony. “Sociedade e cultura”. Sociologia. São Paulo: Artmed. 2006.
20/10     Metodologias de participação observação em contextos urbanos
Malinowski, B. ‘Introdução’. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1922. Introdução.
Foote-Whyte, William. A Sociedade da Esquina. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
03/11     Estigma
                Goffman, Erving. Estigma. Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada.
                Goffman, Erving. Manicômios, conventos e prisões.
.               Becker, Howard. Outsiders: Estuds de sociologia do desvio.
10/11     Prostituição como Objeto de Pesquisa
                Leite, Gabriela. Filha, Mãe, Avó e Puta.
                Gaspar, Maria Dulce. Garotas de Programa.
                Roberts, Nickie. Prostitutas na História
17/11     Prostituição e DSTs em Macaé
O que precisamos saber?
Onde devemos ir?
Com quem devemos falar?
Planos de abordagem
Cronograma

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ementa, Antropologia Cultural - Enfermagem, 2.2010



FCA 218 – Antropologia Cultural - Enfermagem


Prof. Thaddeus Gregory Blanchette

2010- 2

Quartas, 13:00 às 17:00

O curso é uma introdução básica à antropologia cultural, com ênfase em discussões sobre o corpo e sua constituição sociobiológico. A avaliação do curso se dará por participação nas aulas (apresentação e discussão de textos) e um trabalho final, que será entregue em dezembro.

As informações de contato para o professor são: 21-9781-1963, macunaima30@yahoo.com.br.

Nossa turma tambem terá um blog, através do qual eu tentarei distribuir informações e textos.

29/09 Apresentação do curso: A Antropologia como campo de conhecimento.

Miner, Horace. “Ritos Corporais entre os Sonacirema” In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) You and the Others - Readings in Introductory Anthropology. Cambridge: Erlich, 1976.

06/10 A Antropologia e as demais ciências sociais; as concepções de sociedade e cultura.

DaMatta, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1982. 1ª Parte (17-58)

13/10 As noções de natureza e cultura e desenvolvimento da antropologia. Antropologia como resposta ao etnocentrismo.

Laraia, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

20/10 A pesquisa de campo e a etnografia como método de fazer teoria em Antropologia.

Malinowski, B. ‘Introdução’. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1922. Introdução.

Foote-Whyte, William. A Sociedade da Esquina. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.

03/11 Raça, e a evolução humana: o social e o biológico.

Gould, Steven J. A Falsa Medida do Homen. SP: Martins Fontes, 2003. Introdução.

Luigi L. Cavalli-Sforza. Genes, povos e línguas. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.

10/11 Sexo e Gênero
Laqueur, Thomas. Inventando o Sexo Corpo e Genero, dos Gregos a Freud. SP: Relume Dumara, 2009.

17/11 A Antropologia na Saúde

Porto, Madge, Cecilia McCallum, Russel Parry Scott, Heloísa Mendonça de Moraes 2003. ‘A saúde da mulher em situação de violência: Representações e decisões de gestores/as municipais do Sistema Único de Saúde’. Caderno de Saúde Pública 19(Sup. 2): S243-S252.

McCallum, Cecília e Ana Paula dos Reis 2006. ‘Resignificando a dor e superando a solidão: experiências do parto entre adolescentes de classes populares atendidas em uma maternidade pública de Salvador’. Caderno de Saúde Pública 22(7): 1483-1491.

Souza, Iara Maria Almeida de 2007. ‘Produzindo Corpo, Doença e Tratamento no Ambulatório: Apresentação de Casos e Registros em Prontuário’. Mana. Estudo de Antropologia Social 13(2): 471-496.

Um novo semestre!


Após de várias tentativas apoidas por Professores José e Lisia, não consegui permissão do IFCS para abrir um turma de antropologia cultural no NUPEM este semestre.

Todavia, estarei dando a matéria no Polo Universitário para o Curso de Enfermagem nas quartas, das 13-17 horas e qualquer um que quer participar, pode. A aula vai começar amanha.

Adicionalmente, estarei organizando um grupo de estudos sobre metodologias qualitativas e pesquisas de sexo/prostituição no Polo quartas a noite, das 17:30-21:30. Qualquer um pode tambem participar desse grupo, cujo objetivo será a organização de uma pesquisa sobre prostituição e DSTs em Macaé e, potencialmente, a abordagem de um artigo sobre esse tema.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um biólogo norte-americano discute o funcionamento do cérebro

O artigo é escrito em inglês, infelizmente, mas Dr. PZ Myers, biólogo da Universidade de Minnesota, faz um argumento excelente sobre a complexidade do cérebro humano e porque isto seria dificilmente reproduzido por meios artificiais no futuro próximo.

Vocês podem ler o artigo aqui.

O interessante do argumento de PZ é que ele também destroi algumas das variações mais modernas do biodeterminismo que econtramos por aí. Mesmo sabendo, por exemplo, o código genético para formar um cérebro, não vamos poder construir um cérebro, pois esse se forma em interação desenvolvimental com seu meio ambiente. Ou seja, como artefato biológico, ou cerebro humano é tanto o resultado do treinamento e meio ambiente quanto ele é da genética.

Isto salienta, mais uma vez, um ponto que discutimos na aula: a divisa entre nature e nurture está cada vez mais se revelando como uma divisa falsa. Seu condicionamento cultural se transforma em fato biológico e vice versa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

NOTAS!!!!

Gente, aqui estão!

Não recebi trabalhos finais de Caliandra, Luan, ou Marcele. Luan já me falou sobre sua situação e Marcele saiu com nota de 5,0, mesmo sem ter entregado o último trabalho. Todavia, Caliandra saiu com nota de 4,7. Portanto, Caliandra, se você está acompanhando essas notícias e acha que fiz um erro, manda uma mensagem para macunaima30@yahoo.com.br. Quaisquer outras perguntas podem ser encaminhadas pelo mesmo endereço. Estarei no Polo Universitário na quarta que vem. se tiver duvidas, não hesite em marcar uma reunião! Também tenho todas as provas finais para devolver.

Em geral, as notas foram boas. Parabens a todos!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Trabalhos Finais

Tentei esperar ao máximo que podia ontem para receber os trabalhos. Todavia, com a chuva ameaçando, tive que ir andando lá pelas 5:45.

Aparentemente, 4-5 alunos estavam tendo dificuldades em imprimir os trabalhos finais e não podiam me entregar no dia marcado. Minha sugestão, então, é mandar esses pelo correio:

Thaddeus Blanchette
R. Santa Cristina 171, Apto. 301s
Rio de Janeiro, RJ, 20241-250

Estarei em Macaé a semana que vem pelos eventos do inverno fazendo ciência. Todavia, estarei no Polo e não no NUPEM, então acho melhor mandar os trabalhos que faltam.

Abraços e boas férias para todo mundo!

domingo, 4 de julho de 2010

Biologia, Cultura e a Questão da Raça



A prova deve ser entregue ao professor (e NÃO por e-mail) no dia 14.07.2010, imprescindivelmente.

A prova representará 45% de sua nota pelo semestre. Escolha TRÊS perguntas das seis apresentadas, e responda a elas utilizando as leituras e notas da aula. Adicionalmente, você terá que responder OBRIGATORIAMENTE a pergunta número 7. (Então você responderá a um total de 4 perguntas.)

O número total de páginas deve ser entre 5 a 10. O trabalho terá que ser feito em Times New Roman 12, espaço um e meio, e impresso em tinta preta. Não aceitarei, sob hipótese alguma, textos escritos a mão.

Cada resposta deve ser apresentada como um mini-ensaio, ou seja, é sua responsabilidade incluir atribuições corretas e uma lista bibliográfica das fontes que você usou para preparar a resposta.

Atribuições devem ser incluídas no texto cada vez que você cita as palavras de outro autor ou use as ideias de outro autor. Nota-se que você nunca pode fazer atribuições demais e o uso correto de atribuições é sua única defesa contra acusações de plágio. Como fazer uma atribuição? Simples: em parenteses, assim, logo após do material em questão (SOBRENOME DE AUTOR, data de publicação: página de onde retirou o material). Então, se você quer citar, por exemplo o Barth sobre a etnicidade, a atribuição correta seria (BARTH, 2000: pagina tal). Se a ideia do autor é geral, só cita seu nome e a data. Se você não tem a data de publicação da obra, isto pode ser facilmente encontrada na internet, buscando pelo título. Em última instância, você pode usar “s/d” (que indica “sem data”).

Para com a bibliografia, ela fica ao final de seu trabalho e deve incluir todos os autores e obras que você citou em suas respostas, listadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor. Cada entrada na lista deve ser assim:

SOBRENOME, Nome. Data de publicação. Título. Título da coletânea, se tiver. Cidade de publicação: editor.

Então no caso de Barth...

BARTH, Fredrik. 2000. “Os grupos étnicos e suas fronteiras”. Em O Guru, O Iniciador. Rio de Janeiro: Contra Capa.

Não esqueça de incluir seu nome numa página de rosto!



As Perguntas Livres (escolha 3 dos 6)


1) Descreva os conceitos de racismo, racialismo e determinismo biológico. Quais são as semelhanças e diferenças que são aparentes entre esses conceitos? Dê um exemplo bem delineado de cada um desses conceitos em uso cotidiano.

2) Descreva a evolução da noção de “cultura”. Quais eram as principais mudanças no uso desse conceito no decorrer de sua história? O que seria determinismo cultural?

3) Dê uma definição adequada dos conceitos de raça e etnicidade; compare e contraste esse dois conceitos.

4) O que é o superorgânico? Quais são suas prováveis raízes biológicas? Somos ou não, enfim, meramente seres biológicos? Argumente sua opinião com o material da aula.

5) Seguindo a obra de Gould, apresente três exemplos históricos de como reificação e determinismo tem se combinado com interesses sócio-políticos para criar explicações deterministas e biológicas para a desigualdade entre seres humanos.

6) Como vemos na aula, racismo dificilmente é fruto de ignorância só: ele tende a ser mobilizado de acordo com determinados interesses políticos (entendendo a "política", neste sentido, como o conflito e competição interpessoal). Use sua própria experiência de vida e descreve um encontro que você teve com racismo, racialismo, determinismo biológico, ou etnocentrismo, referenciando as obras utilizadas no curso para analisar o acontecimento. Quais eram, a seu ver, as prováveis razões políticas ou pessoais que instigaram a mobilização do "-ismo" neste caso?



Pergunta Obrigatória

7) A obra do antropólogo Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala, é certamente um dos documentos mais influentes sobre a raça já escrito por um brasileiro. Como temos explorado na aula,  Freyre escrevia num momento histórico bastante peculiar, quando as teorias sobre arianismo e eugenia estavam em seu auge, mas que já estavam sendo desafiadas pelas teorias culturalistas dos antropólogos da escola de Franz Boas e Alfred Kroeber. CG&Senzala reflete essa confusão teorica, pois em vários momentos,  Freyre parece utilizar as antigas teorias biologizantes para explicar a diversidade racial no Brasil, e em outros ele emprega explicações sócio-históricas e culturais. Você deve descobrir e descrever pelo menos um exemplo no livro de ambos desses usos, demonstrando como é que as idéias de Freyre tendem pelo lado do determinismo biológico, ou pelo lado do determinismo cultural.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Leituras de Gilberto Freyre


Para finalizar a matéria, vamos ler seleções de Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala.

O material que deve ser lido é o Prefácio, e Capítulos IV e V.

Lembre-se que esse material representará a base do trabalho final do curso. Quero que vocês escrevem um trabalho - 2-5 páginas - mostrando e EXPLICANDO pelo menos dois usos de Freyre do conceito de "raça". Quero que um desses usos seja no sentido mais racista e tradicional, de "raça como fato biológico" e que o outro seja da maneira mais sociológica, ou seja, "raça como um estrutura social criada por condições históricas e sociais".

Como Casa Grande e Senzala é um livro intersticial - ou seja, ocupa um espaço intelectual que estava em transição do racismo clássico para o determinismo cultural - exemplos de ambos tipos de usos abundam no livro.

O prefácio, que discutiremos ainda essa semana, pode ser encontrado aqui.

(Peço desculpas por não ter colocado esse texto ainda no final da semana passada, mas eu estava passando mal com uma infecção intestinal. O resto do livro será disponível no Xerox do NUPEM ainda nessa semana.)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Tribos - regras básicas do jogo

É 50.000 anos A.C. Você sabe onde estão seus filhos?

Como discutimos na aula, a semana que vem vamos fazer uma experiência: vamos jogar Tribos, jogo escrito por Steve Jackson e David Brin que pretende ilustrar a vai-e-volta entre o "tempo longo" da evolução biológica e o "tempo curto" da evolução cultural.

Os jogadores serão todos membros de pequenas bandas de homo sapiens sapiens no início do paleolítico superior, a época em a cultura humana começou, de acordo com muitos antropólogos e biólogos. Provavelmente, teremos duas ou três bandas de 4-8 jogadores cada.

Objetivo do jogo
O objetivo do jogo é ter o maior número de crianças adultas vivas após de 40 turnos (20 anos). Não sei se vamos conseguir jogar todos os turnos, então vamos premiar o homem e a mulher que tiver mais prole e a banda que, coletivamente, tiver mais prole no final da aula.

Regras Básicas
1) Todo jogador terá um personagem, que serão distribuidos por mim antes do jogo começar. Os personagens são divididos por gênero (homem ou mulher). Cada personagem tem uma habilidade: ou é caçador, coletor, ou artesão. Caçadores caçam comida, coletores colhetam comida e artesões fabricam pontos de lança (que são úteis para a caça) ou cestas (que são úteis para a colheita).

2) Todo turno tem três fases: trabalhar, comer e reproduzir.

3) Trabalhar: caçadores e coletores buscam comida e artesões fabricam ou pontos de lança ou cestas. Successo nessas tarefas não é automático.

4) Comer: cada adulto come 4 pontos de comida. Cada criança come 2. Se não tiver comida suficiente, você morre e está fora do jogo. Certas situações podem fazer você comer mais: doenças, movimento da banda para outro campo de caça, gravidez, etc.

5) Reproduzir: cada membro do tribo pode convidar qualquer membro do sexo oposto para tentar reproduzir. Gravidez não é automatico.

6) Crianças: alguém tem que cuidar das crianças da banda. Um artesão ou coletor pode cuidar de duas crianças, sem problemas. Uma pessoa que resolve não fazer nada além de cuidar de crianças podem cuidar de até 5. Caçadores não podem cuidar de crianças. Crianças que não tem um guardião podem morrer.

Preparando-se para o jogo
Por favor, chega no gazebo do NUPEM pronto para jogar. Precisaremos de dados, então por favor, traz quaisquer dados que tiver em casa.

1) Se você tem preferências de equipe, então é bom se organizar antes do jogo começar.

2) Antes do início do jogo, tivermos uma rodada de "Leis", onder as leis (i.e. os costumes sociais) das bandas serão decididas por voto majoritário. Leis podem ser qualquer coisa que vocês querem inventar, tipo leis sobre casamento, divórcio, etc. Então chega na aula já pensando sobre as leis que você quer para sua banda.

Conflitos
Quaisquer conflitos no jogo serão resolvidos por "intimidação" ou por "briga" (tem regras específicas para resolver essas questões). Nota-se: em 50.000 AC, não existia hospitais ou clínicas do SUS. Portanto, tomem cuidado com as brigas: os personagens que se machuquem podem ficar aleijados para o resto de suas vidas.

Conflitos e comércio entre as bandas
Presumimos que todas as bandas vivem na mesma região, então se vocês querem entrar em contato para fins de guerra, comércio, para arranjar maridos/esposas, ou para qualquer outra razão, é só me avisar durante o jogo.

O juiz
Eu sou o juiz. Se você quer fazer algo clandestinamente (fora do visto dos outros jogadores), é só me avisar. Qualquer decisão minha sobre o jogo, incluindo eventuais mudanças nas regras, é final.

Sugestões
Esse jogo pode demorar ou ir rapidamente e tudo depende de vocês. O objetivo e se divertir e - espero eu - aprender algo sobre as condições prováveis da vida humana no início da nossa constituição como espécie superorgânico. Para vocês que têm jogado RPG em algum momento: isto não é um RPG. É um modelo da vida assim-chamada primitiva. Conflitos armados matam fácilmente e acidentes geralmente são fatais. As crianças (que são, afinal das contas, nossa medida de vitória no jogo) serão extremamente vulneráveis se vocês não trabalham juntos para as proteger. Valentia e porrada podem ser divertidos num jogo como Dungeons e Dragons: em Tribos, tal comportamento deve ser o último recurso (como geralmente era na vida real nessa época).

Boa diversão!

Até quarta feira, posso responder às perguntas escritas nos "comentários", abaixo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O desenvolvimento do conceito de cultura


Franz Boas (1858-1942), demonstrando um ritual indígena no museu nacional dos EUA em 1895.


O conceito de cultura, propriamente dito, continua uma linha de pensamento antigo na Europa a cerca das diferenças físicas e espirituais manifestas entre seres humanos: o monogenismo. Essa teoria estipulava a união psiquica básica de toda a espécie humana, seguindo os preceitos bíblicos que a humanidade descende-se, só e unicamente, de Adão e Eva. O monogenismo se opunhava o conceito de poligenismo, que estipulava que só os povos brancos e mediterraneos foram descendentes de Adão e Eva do Jardim de Eden, os outros povos do planeta sendo criado em outros lugares e momentos (ou por Deus ou pelo Diabo).

Embora seja uma simplificação brutal, podemos pensar em determinismo biológico e racismo como teorias descendentes de (ou aparentadas com) poligenismo enquanto o relativismo cultural tem uma pé firme na herança intelectual de poligenismo.

O conceito de cultura vem própriamente da união de duas outras ideías: kultur, um conceito alemão, utilizado para simbolizar todos os aspectos "espirituais" de uma comunidade (suas leis, tradições, pensamentos e etc.) e a civilización, um conceito francês que refere-se às realizações materiais de um povo (i.e. sua tecnologia).

Em sua obra principal (Cultura Primitiva (1871)), Edward Tylor (1832-1917) sintetiza esses dois conceitos para criar o conceito de cultura: essa palavra refere-se todas as possibilidades de realização humana, se opondo fortemente a idéia da transmissão biológica dos comportamentos humanos. Tylor define a cultura como "todo aquele complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquerido pelo homem como membro da sociedade".

Um problema com a definição de Tylor é que ele ainda aceitou a noção de uma escala comparativa de cultura - ou seja, a idéia de que tinha culturas superiores e inferiores. (Veja-se o livro de Roque Laraia, Cultura, Capitulo 4, segunda página, para mais informações.)

Franz Boas (1858-1942) completa o desenvolvimento da noção moderna de cultura, postulando o relativismo cultural: “culturas” (plural) versus “cultura” (singular). 

Apontava que cada cultura é uma unidade integrada, fruto de um desenvolvimento histórico peculiar. Boas enfatizou a independência dos fenômenos culturais com relação às condições geográficas e aos determinantes biológicos, afirmando que a dinâmica da cultura está na interação entre os indivíduos e sociedade. Para eles, o fato de ocorrerem fenômenos semelhantes em épocas e lugares diferentes, provava a existência de uma origem comum da humanidade. Boas, pelo contrário, afirmava que esses fenômenos similares poderiam ter se originado por caminhos diversos, e que o mesmo fenômeno tem sentidos variados em cada cultura. Antes de se fazerem suposições, devia-se investigar a fundo as causas dos fenômenos, utilizando-se da investigação histórica, tão defendida por ele. Boas inaugura o conceito de culturas, no plural, que cada uma delas tem sua própria história; contrapondo com o pensamento evolucionista que concebia uma cultura humana universal. Segundo Boas, todas as culturas são dinâmicas, sofrem mudanças ao longo do tempo. O objetivo da pesquisa antropológica de Boas seria compreender os fenômenos dessas culturas particulares, o sentido que os elementos de cada cultura tem para seus membros, e não estabelecer leis gerais, como pensavam os evolucionistas.

A.L. Kroeber (1876-1960) é o último "pai" da noção moderna de cultura. Ele desenvolve o conceito do superorganico em 1917, postulando a supremacia da cultura sobre a biologia no comportamento humano. Amplia-se o conceito de cultura e declara sua supremacia nos assuntos humanos.

Como Opera a Cultura

1) Cultura condiciona a visão do mundo do homem. Forma-se uma lente através do qual o mundo é visto. Fisicamente, até: os esquimos o o cor branco. Etnocentrismo: entender o mundo como se seus valores fossem os mesmos de todo mundo.

2) A cultura interfere no plano da biologia. Banzo. Couvade.

3) Os individuos participam diferentemente de suas cultura. Velhos e novos, mulheres e homens, posições de trabalho diferenciadas.

4) A cultura tem uma lógica própria. Os homens bombas “malucos”. A coerência de um hábito social só pode ser analisado a partir do sistema a que pertencer.

5) A cultura é dinâmica. Ela muda, sempre. Não existe cultura fossilizada.

(Fontes: Wikipedia e Laraia)

Eugenia


Francis Galton, 1822-1911
Primo de Charles Darwin
Fundador da eugenia
Obra principal: Gênio hereditário, 1869



Eugenia é um termo cunhado em 1883 por Francis Galton (1822-1911), significando "bem nascido". Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente. Em outras palavras, melhoramento genético.

O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a ter um movimento eugênico organizado. A Sociedade Eugênica de São Paulo foi criada em 1918. O movimento eugênico no Brasil foi bastante heterogêneo, trabalhando com a saúde pública e com a saúde psiquiátrica. Uma parte, que pode ser chamada de ingênua ou menos radical, do movimento eugenista se dedicou a áreas como saneamento e higiene, sendo esses esforços sempre aplicados em relação ao movimento racial.

Quadro "Redenção de Can" (1895, avó negra, filha mulata, genro e neto brancos). Para o governo da época, a cada geração o brasileiro ficaria mais branco. Quadro de Modesto Brocos y Gomes.

(Fonte: Wikipedia)

O quadro "A Redenção de Can" do pintor Modesto Brocas y Gomes (1895) hoje faz parte da coleção de arte nacional amostra no Museu Nacional das Belas Artes no Rio de Janeiro. Nele, vemos uma ilustração gráfica da eugenia à brasileira: uma avó negra lança as mãos aos céus por seu neto ter nascido branco.

Darwinismo Social



Herbert Spencer, 1820-1903
Obra principal: Princípios de Biologia, 1864
Cunhou a frase “sobrevivência dos mais aptos”.
Popularizou o Darwinismo social



De acordo com esse pensamento, existiriam características biológicas e sociais que determinariam que uma pessoa é superior à outra e que as pessoas que se enquadrassem nesses critérios seriam as mais aptas. Geralmente, alguns padrões determinados como indícios de superioridade em um ser humano seriam o maior poder aquisitivo e a habilidade nas ciências humanas e exatas em detrimento das outras ciências, como a arte, por exemplo, e a raça da qual ela faz parte.

Um conjunto de pensadores atribui a fonte do darwinismo social ao próprio Darwin, que na sua obra, A Origem do Homem, havia aplicado o sua teoria ao mundo social. Nesta obra, Darwin ocupa-se da evolução humana e ao fazê-lo aplica os mesmos critérios que utiliza em A Origem das Espécies. Entretanto, foi Herbert Spencer o autor que popularizou a idéia de que grupos e sociedades evoluem através do conflito e da competição. A teoria de Darwin diz também que no mundo sobrevive o mais forte por isso há a evolução, os seres vivos evoluem para cointinuar vivo, o homem é um grande exemplo disso.

(fonte: wikipedia)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Leituras para essa semana: Kuper e Antropologia

Peço desculpas por alguns erros que aconteceram no xerox nessa semana. Aparentemente, o xerox esqueceu de incluir o capa do livro entre os itens xerocados, dificultando, assim, o recolhimento do material.

Sabe, então, que os capítulos do livro de Kuper são 3 e 4: "A Human Way of Life" e "The Evolution of Culture". O texto adicional, em português, só foi colocado na semana passada e vem do livro "Antropologia". É fácil reconhecer, pois o livro ainda se encontra no xerox.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Superorgânico

Antropólogo teuto-americano, A. L. Kroeber, 1876-1960.


A ideia de "o superorgânico" é associado a Alfred Kroeber, um antropólogo americano que escreveu na primeira metade do século XX. O superorgânico é outro modo de descrever - e compreender - a cultura ou o sistema socio-cultural.

Se começarmos com o inorgânico, é o universo físico, todos os átomos dos elementos sem vida. Podemos chamar isto o mais baixo nível de complexidade. O segundo nível de complexidade é composto das coisas vivas. Todas as coisas vivas, plantas e animais, são compostos de elementos inorgânicos, principalmente de hidrogénio, oxigénio e carbono, mais alguns elementos raros.

Aqui usamos uma frase interessante, "O todo é maior que a soma das partes." O conjunto de elementos inorgânicos que designamos de, por exemplo, uma árvore, ou um cão, está viva. Se analisar todas essas partes, por si mesmas, ou mesmo como um conjunto, não estão vivas. O posicionamento torna-as vivas. Se separar o cão ou a árvore nos seus elementos separados, eles morrem.

Sabendo a dinâmica de como os átomos de carbono funcionam, ou que combinar hidrogénio e oxigénio pode resultar na combustão rápida ou mesmo numa explosão, não explica como a árvore funciona, com as suas folhas a converter a luz solar em energia e a transformar água e dióxido de carbono em oxigénio e carbono, canais para transferir a seiva das folhas para as raízes, e por aí fora.

gualmente, o cão, se visto como um sistema biológico, opera a nível mais elevado de complexidade que os elementos inorgânicos que o compõem.

Uma entidade viva, então, transcende as suas partes inorgânicas.

Observando a relação entre as coisas vivas e as suas componentes inorgânicas desta forma ajuda-nos a compreender a relação entre a cultura e as pessoas. A cultura e a sociedade compõem o terceiro nível.

Os seres humanos são animais, e dessa forma são sistemas orgânicos. Eles desenvolveram comunicações entre eles próprios a uma nível complexo, muito mais sofisticado do que outros animais. Esta complexidade associa os humanos em comunidades e sociedades. Estas associações são simbólicas, não genéticas como nos sistemas biológicos. O nível socio-económico, cultura ou sociedade, é deste modo transportado por humanos e transcende os humanos. Uma cultura tem uma "vida própria" que é simbólica em vez de genética. É deste modo uma coisa "viva".

Opera entre os seres humanos, então, a um nível mais elevado de complexidade que o orgânico. É superorgânico.

Existe, deste modo, um paralelismo nas relações entre o inorgânico e o orgânico, tal como entre o orgânico e superorgânico. O conceito desenvolvido pelo sociologo Emile Durkheim, um "facto social", expressa-se neste entendimento.

Os humanos têm pensamentos e comportamentos: esses são transportados pelos indivíduos. Eles comportam-se, no entanto, em consonância uns com os outros, como um sistema externo. Não pense num cão como um átomo de carbono ou uma molécula de hidrocarboneto e da mesma forma, não pense numa comunidade, numa instituição, numa sociedade como um ser humano.

Não antropomorfize a cultura. A cultura é uma ordem diferente - tão diferente do ser humano indivídual quanto o cão é de todos os átomos orgânicos que o compoem.

(Texto original por por Phil Bartle, traduzido por Inês Rato e modificado por Thaddeus Blanchette)

Determinismos, biológicos e outros.



O racismo clássico pode ser considerado como variante do determinismo biológico.


Determinismo é a doutrina que afirma serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas, causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio. Segue-se que o ser humano seria destituído de liberdade de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte.

Determinismo biológico, portanto, é a crença que a biologia determina o comportamento humano, negligenciando os outros fatores como o social, o cultural, o ambiental e o político.

No racismo clássico, a raça é entendida como um pacote unificado de genes e esses regulam o comportamento humano, criando uma situação onde, por exemplo o negro supostamente tem talento natural para dança e o japonês por engenharia e assim adiante.

Existem outros tipos de determinismo biológico, porém, como sexismo (a crença que o sexo biológico determina o comportamento) ou certas variantes de heteronormatividade (que estipulam o homossexual como um ser fisicamente distinto cujo comportamento é determinado por essa diferença).

É importante também saber que existem outros tipos de determinismo no mundo, como por exemplo o determinismo geográfico (que prega que o meio-ambiente determina absolutamente o comportamento humano) ou determinismo cultural (em que a cultura supostamente determina absolutamente o comportamento humano – erro de uma determinada corrente de antropologia).

Esses determinismos são falsos, pois todos tentam reduzir os comportamentos complexos a origens simples e limitadas. Também eliminam qualquer possibilidade de agência por parte dos seres humanos – ou seja, ignoram a nossa capacidade de refletir sobre nossas ações e decidir modificar nosso comportamento..

Embora somos seres superorgânicos, programados por nossa sociedades, também estamos sujeitos a determinados fatores biológicos. Se você adquire uma doença, por exemplo, seu corpo de fato vai sofrer modificações que hão de impactar sob seu comportamento. Também não há dúvida alguma de que existem corpos diferentes e que essas diferenças podem influenciar nossos comportamentos. A palavra chave aqui é “influenciar”, em vez de “determinar”.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Aula I: Notas

O quadro "Europa, sustentada por África e América" de William Blake (1796), apresenta um exemplo da visão categórica da biodiversidade humana que nasceu com as viagens e conquistas europeias.


Aqui segue algumas notas referentes à nossa primeira aula:

Raça entre seres humanos:
Enquanto entendida como "variante" ou sub-espécie, não existe nenhuma entidade biológia coerente que pode corresponder ao conceito de "raça" entre seres humanos.

Todavia, existem "raças":  estas são construções sócio-políticas que têm tido um impacto enorme na história dos últimos três séculos.

Portanto, as "raças" existem: só não existem como entidade biológicas. Pode pensar nos signos astrológicos como uma metáfora: os signos claramente existem - pode conferir isto olhando em qualquer jornal do país onde você vai encontrar um horóscopo. Foram criadas por nós, os seres humanos. Nada na organização física do universo indica que os signos astrológicos existam fora de nossa imaginação. As coisas imaginárias podem ser extremamente importantes, porém.

Nota-se bem que dizer que as raças não existem enquanto fato biológico não é a mesma coisa que dizer que todos os humanos são biologicamente iguais. Muito pelo contrário: é reconhecer que o conceito de raça - concebido como um "pacotão" fechado de características biológicas típicas - é simples demais para dar conta dos padrões percebidos na biodiversidade humana. Hoje, os biólogos e os antrópólogos físicos utilizam a teoria de clines para descrever as mudanças nas taxonomias humanas (veja-se: Teoria de Clines, abaixo).

Racialismo (definição):
Racialismo é a crença de que existem características biológicas que são possuidas por todos os membros de um determinado grupo e que não são possuidas pelos membros de outros grupos. Os grupos que são caracterizados pela posse desse características específicas são entendidos como raças. De acordo com o antropólogo Kwame Anthony Appiah, "Racialismo, por si só, não é perigoso... é uma hipótese falsa, mais é um problema cognativo e não moral" (em outras palavras, Appiah acha que as pessoas que acreditam na existência biológica das raças entre seres humanos são burras, mas não necessariamente más).

Racismo (definição):

Propriamente falando, o racismo é uma variante do racialismo. É a aplicação do ponto de visto racialista, utilizando esse com base para comparições discriminatórias e tratamento desigual. Nota-se que a "discriminação" nesse caso não tem que ser negativa, necessariamente. A idéia de que "os asiáticos são melhores em matemática" é disriminatória e racista, junto com a idéia que "os negros sabem dançar muito bem". É a aplicação de um preconceito a um grupo, entendido como biologicamente homogêneo, que faz o racismo.


Teoria de Cline
De acordo com o biólogo B.J. Style (APUD Kageyama et al: 1977), o termo cline é utilizado para descrever as variações de características nas populações que são relacionadas a gradientes ambientais. Assim, um padrão de gradação nas características fenotípicas associadas com um gradiente ecológico é conhecido como ecocline, com fatores geográficos como topocline, etc. É importante notar que o termo cline não é uma categoria taxonômica, mas sim um termo para descrever um tipo particular de variação contínua. Cada característica física humana é distribuida de acordo com um cline diferente e, embora alguns desses clines podem mostrar gradações mais ou menos iguais, isto não é o caso da maioria. Podemos ver alguns clines tipicamente associados com a percepção de "raça" entre seres humanos, abaixo:


A distribuição clinática do cor da pele (mais negro = mais escuro)

A distribuição clinática do tamanho das dentes (mais negro = dentes menores)

A distribuição clinática da anemia falsiforme (mais negro = mais % da gene)

A visão camponês (tradicional) da biodiversidade humana
Até recentemente, a grande maioria da população humana vivia em pequenas aglomerações agriculturais e sua familiaridade com o mundo era restrita a um círculo de mais ou menos 40 kilómetros em torno de sua moradia, póis essa era a distância que um homem ou mulher poderia andar em um ou dois dias. Ora, em nenhum lugar do planeta, vamos encontrar diferenças radicais em taxonomias humanas em 40 km. Mesmo hoje, se fossemos andar a pé da Noruega à Nigéria, não encontrariamos nenhuma etapa em toda a jornada onde a população ao nosso redor mudaria radicalmente no decorrer de 40 kilómetros. E, no entanto, chegando na Nigeria, teriamos que notar que as pessoas que moram por aquelas bandas têm feições diferentes das pessoas em Noruega. Não notamos diferenças radicais porque, andando, estavamos seguindo os vários clines de distribuição de características físicas. Alguém que fizesse tal viagem dificilmente perceberia a existência de "raças", pois nunca encontraria uma mudança radical nas fisionomias das pessoas por onde passou. Ela não veria, por exemplo, uma divisão abrupta entre "branco" e "negro" e sim um lento processo de escurecimento do pele na medida em que ele se aproxima ao equador. Tal viajante questionaria a existência de "negros" e "brancos". Ele perguntaria por que escolher só esses dois pontos na viagem como "diferentes" e não nenhum dos pontos do intervalo?

A visão categórica (moderna) da biodiversidade humana

(E nota-se que quando digo "moderno", estou falando largamente do período entre 1500 e 1950).
Com as mudanças na tecnologia de transportes causadas pelo renascimento na Europa, a visão da biodiversidade humana mudou. Um viajante poderia sair de um lugar (Lisboa, digamos) e viajar até um outro continente, sem ver as populações humanas no entremeio. É claro, os humanos que esses viajantes europeus encontraram no fim dessas viagens eram percebidos como categoricamente diferentes e, pela primeira vez na história humana, a variação humana começava a ser descrita em termos de categorias e não gradientes. Essas categorias foram refoçadas pelas práticas de conquista, colonização e escravidão empregadas pelos europeus na África, Ásia e as Américas. As categorias humanas, então, lentamente viam-se associadas com categorias políticas e de classe e status, se concretizando nas raças que conhecemos hoje.