terça-feira, 29 de março de 2011

Biologia, Cultura e a Questão Racial: ementa, 1.2011



Biologia, Cultura e a Questão de Raça

Professor Dr. Thaddeus Gregory Blanchette Código: MAB111 3ª Feira: 13-17h


Ementa:
O objetivo do curso é discutir o conceito de raça e como essa idéia tem sido aplicada historicamente aos seres humanos na luz dos entendimentos da Antropologia Cultural. Apresentaremos as noções de natureza e de cultura, discutindo a interação entre o social e o biológico. Olharemos para a raça como conceito biológico e como isso tem sido aplicado aos seres humanos, tocando nas histórias imbricadas de racismo e racialismo. Detalharemos a antropologia como campo de conhecimento e discutiremos a evolução humana na luz do conceito do superorgânico de A.E. Kroeber. Apontaremos as distinções entre o conceito de distribuição clinática de atributos versus o modelo racialista. O intuito do curso é posicionar os alunos de Ciências Biológicas frente às principais discussões sobre a questão da (não) existência das raças humanas.

Avaliação: 
A nota do curso será determinada a partir da seguinte formulário:
- 10% presença. O aluno que não comparecer a pelo menos 75% das aulas será reprovado.
- 45% Participação na aula. Leitura e discussão dos textos. Entrega dos trabalhos práticos.
- 45% Trabalho final. Não mais que 10 páginas, espaço 1,5, letra Times New Roman tamanho 12, sem contar a bibliografia.

Informações de contato para Professor Thaddeus:
Fone: 21-9871-1963 E-mail: macunaima30@yahoo.com.br
Horário para consultas individuais: 3ª feira, 11:00-13:00hs, na cantina.

Semana 1 Introdução ao curso: o que é raça? Organização de grupos de trabalho.

Semana 2 Distribuição clinática de genes versus o conceito de raça. Leitura: Luigi Luca Cavalli-Sforza, Genes, Povos e Línguas. Capítulo 1.

Semana 3 O superorgânico. Leitura: Giddens, Sociologia. Capítulos 1 e 2.

Semana 4 e 5 O homem no conceito antropológico. Leitura: Laraia, Cultura.

Semana 6 A evolução humana e cultura. Leitura: Luigi Luca Cavalli-Sforza, Genes, Povos e Línguas. Capítulo 6. Leitura opcional: Kuper, The Chosen Primate. Capítulos 3 e 4.

Semana 7 e 8 Noções clássicas de raça: do Darwin ao Hitler. Leitura: Hitler, Minha Luta (seleções a serem indicadas por Professor Thaddeus.

Semana 9 Entrega do trabalho de grupo.

Semana 10 e 11 Confrontando raça. Leitura: Gould, A Falsa Medida do Homem. Cada grupo apresentará um capítulo.

Semana 12 e 13 Vinhos velhos em garrafas novas? Novas idéias sobre a biologia humana. Leitura: Luigi Luca Cavalli-Sforza, Genes, Povos e Línguas. Capítulo 3. Leitura opcional: Brace, Race is a four letter word. Capítulos 1, 17, 18 e 19.

Semana 14 Etnicidade versus raça: a perspectiva antropológica. Leitura: Barth, “Introdução”.
Filme: Sonhos Tropicais.

Semana 15 Raça e eugenia no Brasil. Leitura: Freyre, Casa Grande e Senzala; Cuikerman, Yes, nos temos Pasteur; Schwartz, O espectáculo das raças. Maio: Raça, ciência e sociedade. Seleções. Cada grupo apresentará um livro.


BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BARTH, F. “Introduction”. In: Ethnic Groups and Boundaries. George Allen & Unwin. 1969.
BRACE, C. L. Race is a Four Letter Word: The Genesis of the Concept. NYC: Oxford University Press. 2005
CAVALLI-SFIRZA, L.L. Genes, Povos e Línguas. SP: Companhia das Letras. 2000.
GIDDENS, A. Sociologia. SP: Artmed Editora. 2005.
GOULD, S.J. A Falsa Medida do Homen. SP: Martins Fontes. 2003.
HITLER, A. Minha Luta. (http://www.reidoebook.com/2009/03/rei-do-ebook-minha-luta.html)
KUPER, A. The Chosen Primate. London: Harvard University Press. 1994.
LARAIA, R Cultura: Um Conceito Antropológico. RdJ: Jortge Zahar. 2005.
FREYRE, G Casa Grande e Senzala. Recife: Fundação Gilberto Freyre. 1992.


Blog da turma: http://racabionupem.blogspot.com/ Isto será usado para discutir ou comentar o material apresentado nas aulas. Os comentários podem ser anônimos. Tambem pode ser usado para distribuir textos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ritos Corporais Entre Os Sonacirema



O antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento que diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de surpreender-se mesmo em face dos costumes mais exóticos. De fato, se nem todas as combinações logicamente possíveis de comportamento foram ainda descobertas, o antropólogo bem pode conjeturar que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita.

Deste ponto de vista, as crenças e práticas mágicas dos Sonacirema apresentam aspectos tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como exemplo dos extremos a que pode chegar o comportamento humano. Foi o Professor Linton, em 1936, o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos para os rituais dos Sonacirema, mas a cultura desse povo permanece insuficientemente compreendida ainda hoje.

Trata-se de um grupo norte-americano que vive no território entre os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México, e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Sonacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem à sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força: ter atirado um colar de conchas, usado pelos Sonacirema como dinheiro, através do rio Po- To- Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residiria o Espírito da Verdade.

A cultura dos Sonacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evolui em um rico habitat. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são singulares.

A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é desviar estas características através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito freqüentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmeras de culto das mais ricas têm paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário.

Embora cada família tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias familiares, mas sim cerimônias privadas e secretas. Os ritos, normalmente, são discutidos apenas com as crianças e, neste caso, somente durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios. Eu pude, contudo, estabelecer contato suficiente com os nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos rituais.

O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais preparados são conseguidos através de uma serie de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros, cujo auxilio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os médicos-feiticeiros não fornecem a seus clientes as poções de cura; somente decidem quais devem ser seus ingredientes e então os escrevem em sua linguagem antiga e secreta. Esta escrita é entendida apenas pelos médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dadiva, providenciam o encantamento necessário. Os Sonacirema não se desfazem do encantamento após seu uso, mas os colocam na caixa-de-encantamento do santuário doméstico. Como tais substâncias mágicas são especificas para certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas, a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e temem usá-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que aquilo que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente à qual são efetuados os ritos corporais, irá, de alguma forma, proteger o adorador.

Abaixo da caixa-de-encantamentos existe uma pequena pia batismal. Todos os dias cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa-de-encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução. As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro.

Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por "sagrados-homens-da-boca". Os Sonacirema têm um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo fascinação, pela cavidade bucal, cujo estado acreditam ter uma influência sobre todas as relações sociais. Acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais seus dentes cairiam, seus amigos os abandonariam e seus namorados os rejeitariam. Acreditam também na existência de uma forte relação entre as características orais e as morais: Existe, por exemplo, uma ablução ritual da boca para as crianças que se supõe aprimorar sua fibra moral.

O ritual do corpo executado diariamente por cada um dos Sonacirema inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado, que só pode considerá-lo revoltante. Foi-me relatado que o ritual consiste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca juntamente com certos pós mágicos, e em movimentá-lo então numa série de gestos altamente formalizados. Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistindo de brocas, furadores, sondas e aguilhões. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve, para o cliente, uma tortura ritual quase inacreditável. O sacerdote-da-boca abre a boca do cliente e, usando os instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades que a degeneração possa ter produzido nos dentes. Nestas cavidades são colocadas substâncias mágicas. Caso não existam cavidades naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais dentes são extirpadas para que a substância natural possa ser aplicada. Do ponto de vista do cliente, o propósito destas aplicações é tolher a degeneração e atrair amigos. O caráter extremamente sagrado e tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem ao sacerdote-da-boca ano após ano, não obstante o fato de seus dentes continuarem a degenerar.

Esperemos que quando for realizado um estudo completo dos Sonacirema haja um inquérito cuidadoso sobre a estrutura da personalidade destas pessoas, Basta observar o fulgor nos olhos de um sacerdote-da- boca, quando ele enfia um furador num nervo exposto, para se suspeitar que este rito envolve certa dose de sadismo. Se isto puder ser provado, teremos um modelo muito interessante, pois a maioria da população demonstra tendências masoquistas bem definidas.

Foi a estas tendências que o Prof. Linton (1936) se referiu na discussão de uma parte específica dos ritos corporal que é desempenhada apenas por homens. Esta parte do rito envolve raspar e lacerar a superfície da face com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em freqüência é compensado em barbaridade. Como parte desta cerimônia, as mulheres usam colocar suas cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora. O aspecto teoricamente interessante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista tenha desenvolvido especialistas sádicos.

Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, ou latipsoh, em cada comunidade de certo porte. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o taumaturgo, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas e toucados específicos, movimentam-se serenamente pelas câmaras do templo.

As cerimonias latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Sabe-se que as crianças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de levá-las ao templo, porque "é lá que se vai para morrer". Apesar disto, adultos doentes não apenas querem mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa para a administração. Mesmo depois de ter-se conseguido a admissão, e sobrevivido às cerimônias, os guardiães não permitirão ao neófito abandonar o local se ele não fizer outra doação.

O suplicante que entra no templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Na vida cotidiana os Sonacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo do corpo quando da entrada no latipsoh, podem resultar traumas psicológicos. Um homem, cuja própria esposa nunca o viu em um ato excretor, acha-se subitamente nu e auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções naturais num recipiente sagrado. Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque os excreta são usados por um adivinho para averiguar o curso e a natureza da enfermidade do cliente. Clientes do sexo feminino, por sua vez, têm seus corpos nus submetidos ao escrutínio, manipulação e aguilhadas dos médicos-feiticeiros.

Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além de jazer em duros leitos. As cerimônias diárias, como os ritos do sacerdote-da-boca, envolvem desconforto e tortura. Com precisão ritual as vestais despertam seus miseráveis fardos a cada madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto executam abluções, com os movimentos formais nos quais estas virgens são altamente treinadas. Em outras horas, elas inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas.

De tempos em tempos o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé das pessoas no médico feiticeiro.

Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um "ouvinte". Este "doutor-bruxo" tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas. Os Sonacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos; particularmente, teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-magia do doutor bruxo é inusitada por sua carência de ritual. O paciente simplesmente conta ao "ouvinte" todos os seus problemas e temores, principalmente pelas dificuldades iniciais que consegue rememorar. A memória demonstrada pelos Sonacirema nestas sessões de exorcismo é verdadeiramente notável. Não é incomum um paciente deplorar a rejeição que sentiu, quando bebê, ao ser desmamado, e uns poucos indivíduos reportam a origem de seus problemas aos feitos traumáticos de seu próprio nascimento.

Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão profunda ao corpo natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos e torná-los menores quando são grandes. A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato de a forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas de um desenvolvimento hipermamário quase inumano, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida simplesmente indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos.

Já fizemos referência ao fato de que as funções excretoras são ritualizadas, rotinizadas e relegadas ao segredo. As funções naturais de reprodução são, da mesma forma, distorcidas. O intercurso sexual é tabu enquanto assunto, e é programado enquanto ato. São feitos esforços para evitar a gravidez, pelo uso de substâncias mágicas ou pela limitação do intercurso sexual a certas fases da lua. A concepção é na realidade, pouco freqüente. Quando grávidas as mulheres vestem-se de modo a esconder o estado. O parto tem lugar em segredo, sem amigos ou parentes para ajudar, e a maioria das mulheres não amamenta seus rebentos.

Nossa análise da vida ritual dos Sonacirema certamente demonstrou ser este povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo. Mas até costumes tão exóticos quanto estes aqui descritos ganham seu real significado quando são encarados sob o ângulo relevado por Malinowski, quando escreveu:

"Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil perceber toda a crueza e irrelevância da magia. Mas sem seu poder de orientação, o homem primitivo não poderia ter dominado, como o fêz, suas dificuldades práticas, nem poderia ter avançado aos estágios mais altos da civilização".

Antropologia Cultural, 1o Semestre, 2011



FCA 218 – Antropologia Cultural - Enfermagem
Prof. Thaddeus Gregory Blanchette
2011- 1
Quartas, 13:00 às 17:00

O curso é uma introdução básica à antropologia cultural, com ênfase em discussões sobre o corpo e sua constituição sociobiológico. A avaliação do curso se dará por participação nas aulas (apresentação e discussão de textos) e um trabalho final, que será entregue em Junho.

As informações de contato para o professor são: 21-9781-1963, 21-9781-1963, macunaima30@yahoo.com.br.

Nossa turma tambem terá esse blog, através do qual eu tentarei distribuir informações e textos.

O primeiro texto importante do curso, "Cultura" de Roque Laraia, pode ser encontrado aqui e abaixo, clicando no link do título. O texto dos Sonarcirema será lido na aula pela turma, mas tambem pode ser encontrado na próxima entrada nesse blog.

16/03 Apresentação do curso: A Antropologia como campo de conhecimento.
Miner, Horace. “Ritos Corporais entre os Sonacirema”.

23/03 As noções de natureza e cultura e desenvolvimento da antropologia. Antropologia como resposta ao etnocentrismo.
Laraia, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

30/03  A Antropologia e as demais ciências sociais; as concepções de sociedade e cultura.
DaMatta, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1982. 1ª Parte (17-58)

06/04 A pesquisa de campo e a etnografia como método de fazer teoria em Antropologia.Malinowski, B.
‘Introdução’. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1922.
'Introdução' .Foote-Whyte, William. A Sociedade da Esquina. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.

13/04 Raça, Biologia e Cultura
Luigi L. Cavalli-Sforza. Genes, povos e línguas. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.

20/04 Apresentação dos trabalhos referente ao livro de Stephen J. Gould: A Falsa Medida do Homem.
27/04 Sexo e Gênero
Laqueur, Thomas. Inventando o Sexo Corpo e Genero, dos Gregos a Freud. SP: Relume Dumara, 2009.

04/05 A Antropologia na Saúde
Porto, Madge, Cecilia McCallum, Russel Parry Scott, Heloísa Mendonça de Moraes 2003. ‘A saúde da mulher em situação de violência: Representações e decisões de gestores/as municipais do Sistema Único de Saúde’. Caderno de Saúde Pública 19(Sup. 2): S243-S252.

McCallum, Cecília e Ana Paula dos Reis 2006. ‘Resignificando a dor e superando a solidão: experiências do parto entre adolescentes de classes populares atendidas em uma maternidade pública de Salvador’. Caderno de Saúde Pública 22(7): 1483-1491.

Souza, Iara Maria Almeida de 2007. ‘Produzindo Corpo, Doença e Tratamento no Ambulatório: Apresentação de Casos e Registros em Prontuário’. Mana. Estudo de Antropologia Social 13(2): 471-496.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Notas Finais, Antropologia Cultural

Peço desculpas pelo atraso relativo em postar essas notas, pois estou tendo alguns problemas chatos de saúde. Nada grave: só... chatos. :-/

Bom, aqui está as notas finais e as notas de todos os trabalhos durante o semetre. Vocês podem entrar em contato comigo, caso que tiver dúvidas ou acham injusta sua nota.

Abraços e boas férias para todo mundo!

Aproveito para anunciar que estarei ministrando um cursinho sobre a cultura militar nos séculos XVIII-XIX durante o Verão com Ciência em fevereiro. Se você tiver interesse em história militar (ou conhecer alguém que tem), por favor, comparece! Vai ser divertido! Vamos acabar o curso com a recriação de uma batalha napoleónica em escala 1/700.



terça-feira, 30 de novembro de 2010

Final do semestre



O trabalho final do curso

Leia os três artigos referentes às pesquisas qualitativas nas questões de saúde. Analisa-los na luz das teorias sobre a cultura apresentadas no curso. Utilize as leituras do curso, particularmente aquelas que tratam da construção socio-cultural do corpo, para responder às seguintes questões:


1) Nos três casos apresentados, como é que a cultura impacta nos corpos dos indivíduos estudados?

2) Como é que a cultura afeita o tratamento que essas pessoas recebem do sistema de saúde?

Ambas estes pontos devem ser abordados em todos os três artigos.

O trabalho deve ter entre 5 e 10 páginas (sem contar a bibliografia e a página de frente), fonte Times New Roman 12, espaço um e meia. Todas as normas universitárias referentes a plágio e e referências bibliográficas devem ser seguidas. Atribuições devem ser incluídas no texto cada vez que você cita as palavras de outro autor ou use as ideias de outro autor. Nota-se que você nunca pode fazer atribuições demais e o uso correto de atribuições é sua única defesa contra acusações de plágio. Como fazer uma atribuição? Simples: em parenteses, assim, logo após do material em questão (SOBRENOME DE AUTOR, data de publicação: página de onde retirou o material). Então, se você quer citar, por exemplo o Frederik Barth sobre a etnicidade, a atribuição correta seria (BARTH, 2000: pagina tal). Se a ideia do autor é geral, só cita seu nome e a data. Se você não tem a data de publicação da obra, isto pode ser facilmente encontrada na internet, buscando pelo título. Em última instância, você pode usar “s/d” (que indica “sem data”).

Para com a bibliografia, ela fica ao final de seu trabalho e deve incluir todos os autores e obras que você citou em suas respostas, listadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor. Cada entrada na lista deve ser assim:

SOBRENOME, Nome. Data de publicação. Título. Título da coletânea, se tiver. Cidade de publicação: editor.

Então no caso de Barth...

BARTH, Fredrik. 2000. “Os grupos étnicos e suas fronteiras”. Em O Guru, O Iniciador. Rio de Janeiro: Contra Capa.

Não esqueça de incluir seu nome numa página de rosto!

O trabalho deve ser entregue por via de internet em formato Windows Word, até as 17:00 horas no dia 21 de dezembro. Você não deve considerar seu trabalho entregue até receber uma resposta minha confirmando o recebimento, portanto, não espere até a última hora para entregar o trabalho!

Endereço para entregue: macunaima30@yahoo.com.br

Subsídios para o trabalho...
...podem ser encontrados nos textos do curso e também aqui no blog.

Sobre raça entre os seres humanos, aqui,

Sobre o conceito do superorgânico, aqui.

Sobre determinismos (biológicos e culturais), aqui.

Sobre o conceito de cultura, aqui.

Sobre a eugenia, aqui.

Sobre o Darwinismo Social, aqui.

Boa sorte! :D

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cancelamento da aula de 10.11

Gente,

Vamos ter que cancelar nossa aula dessa quarta (que é, afinal, uma boa notícia, pois dá tempo para todo mundo ler os livros indicados). Fui chamado a BH por uma reunião urgente de avaliação do plano nacional contra o tráfico de pessoas. Pedi para eles marcarm a minha volta na terça, mas só conseguiram marcar na quarta a tarde. :/ Alem disto, estou com um problema recorrente de saúde, então vou aproveitar o final do dia na quarta para ir a emergência e ver o que está acontecendo.

Estou fazendo muitas notas etnográficas e pretendo transformar isto em documento etnográfico e documento sinótico, para ilustrar os conceitos da aula. Vou mandar esses tão logo quanto puder para vocês criticaram.

Abraços,
Thaddeus

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

In Spite of You Tomorrow Must be Another Day

A rose in a Coke bottle in an ex-jail cell in memory of those who died
and were tortured during the Brazilian military dictatorship, 1964-1984.
The old headquarters of the political police in São Paulo, DOPS, is now a
museum dedicated to the preservation of the memory of the crimes
of authoritarian government.


This one is for my American friends and relatives who are bummed out by the far right's apparent win in this week's elections in the United States.

"Apesar de Você" is a samba that was written and originally interpretted by Brazilian singer/songwriter Chico Buarque de Hollanda in 1970, during the height of the Brazilian military dictatorship. The song was banned from airplay by then President General Médici for its rather explicit criticism of the Brazilian far right.


Chico Buarque #4, banned in Brazil in 1970

In March 1970, Chico returned to Brazil from exile in Italy, having heard from a friend that things "were getting better". They were not. In fact, the period from 1968 to roughly 1974 in Brazil is now known as the "years of lead", when the nascent revolutionary movements in the country were squashed through mass arrests and torture. Chico expressed his disgust with the situation by writing "Apesar de você" - In Spite of You - a full-throated critique of the military regime thinly veiled as quarrel between lovers. When he sent it in to the censors to be vetted, Chico never imagined it would get through - but it did and it sold 100,000 copies.

As soon as a word-of-mouth campaign had put the word out onto the streets about what the song's target really was, Chico was denounced and "Apesar" was banned from the airways. Government officials invaded the record factory and destroyed what copies remained of the song. The censor who approved it was canned and Chico was dragged into political police headquarters and asked at the point of a truncheon who the "you" in the song referred to.

"Oh, it refers to a very pushy and authoritarian woman," said Chico. But everyone in Brazil new that it referred to the generals.

Because of "Apesar", Chico - who many consider to be Brazil's finest living poet - was marked out by the censors as an irredeemable smart-ass and his later records and poems were gone over with a fine-toothed comb and scissors. In the future, Chico had to write and record under a pseudonym in order to get his material past the government.

At the same time Chico published "Apesar de Você", a 27 year old woman was rotting away in prison. A young socialist daughter of Bulgarian immigrants, Dilma Rousseff had joined the nascent revolutionary movement against the dictatorship and, together with her comrade Carlos Minc, had allegedly stolen a safety deposit box containing 2.5 million dollars belonging to the ex-governer of São Paulo, Ademar de Barros, reputably one of the most corrupt men in modern Brazilian history. Dilma was caught in an anti-guerrilla round-up in 1970 and was taken to the headquarters of Operation Bandeirante, the military government's political police facility. There she was tortured for 22 days. Her tormentors employed beatings, electric shocks and most likely sexual abuse.



Dilma Rousseff's mug shot in 1970, taken by the São Paulo political police
on occasion of her arrest and before she endured 22 days of torture.
 
In the very unlikely event that Dilma heard Chico's song while she was in jail, the future it proposed could have only seemed to be a very cruel dream, the kind of thing a drug-addled hippy would come up with, perhaps.
 
On Sunday, October 31st 2010, Dilma Rousseff was elected President of the Federal Republic of Brazil, on the Workers' Party ticket. She will be sworn in as our 36th president in early 2011, Brazil's first female president and, according to some, the most powerful woman in the world. Her old revolutionary comrade Carlos Minc, a leading light of the Brazilian Green Party, is currently our Minister of the Environment and likely to retain that position.
 

Dilma Rousseff, 36th President of Brasil.
 
So you see, there really is a future. In spite of them.
 
Chico Buarque de Holanda (1970)
 
Today, it's you who rule
What you say goes
No talking back
Today, my people talk in low voices
With lowered heads
See?
You who invented this state
All this darkness
You invented sin
And forgot to invent forgiveness.

In spite of you
Tomorrow must be another day
I ask myself where are you going to hide
From the enormous euphoria?
How are you going to stop
The rooster who insists on crowing?
New water springing up
And us loving without stopping?

When the time comes
You'll pay me back for all this suffering
I swear it
All this repressed love
These contained cries
This samba in the dark
You, who invented sadness
Have the courtesy to uninvent it
You're going to pay in double
For every tear I shed
In my pain

In spite of you
Tomorrow must be another day
I'm going to pay to see
The garden break out in flowers
Just like you didn't want
You're going to rue
Seeing the sun come up
Without asking your permission
And I'm going to die laughing
And this day is coming
Sooner than you think.

In spite of you
Tomorrow must be another day
You're going to have to see
The morning be born
And spit out poetry
How are you going to explain yourself
When the skies suddenly clear
With impunity?
How are you going to muffle
Us singing in chorus right in front of you?

In spite of you
Tomorrow must be another day
You're going to come to a bad end
Etc. and so on
Lalalalala...